sábado, 20 de setembro de 2008

Prosaico


Andas muito prosaico. Ai de mim que tinha de ouvir aquela observação que me inocentava das grandes maldades que fazíamos a sós, mas ao mesmo tempo era, ou soava, a uma reclamação pelo abrandar da luxúria de que nos havíamos coberto durante tanto tempo. Relaxei, engoli um sorriso, não me queria arriscar a que de repente percebesses que me fazias sorrir quando achavas que me irias irritar. Não podia deixar de me auto-elogiar por resistir às tuas provocações, afinal tinha aprendido muito contigo sobre comportamento animal e estava a pô-lo em prática, devias sorrir também, se soubesses, ainda bem que não sabes.

Recostado revi o ultimo quadro vivo com que tenho ocupado a imaginação nos últimos dias. Aquela cena excitante que começou com um telefonema inocente. Depois de alguma conversa que durou uns dias, uma semana talvez, havíamo-nos encontrado para almoçar. Nesse dia eu estava especialmente mal inspirado, normalmente costumo estar sempre com disponibilidade a cem por cento para tudo, mas também há dias em que nada me corre bem. Devia ter dito que ficava para outro dia, desculpar-me, qualquer coisa, mas decidi ao invés investir na reviravolta. Conhecia-te e sabia que quando estivesses à minha frente a inspiração me iria inundar, apostei nisso mesmo.
Asneira a minha cheguei demasiado cedo, a espera enervou-me. Pelo menos a minha amiga P chegou pontualíssima. Estávamos ao telefone desde que me aproximei da porta do trabalho dela, e acompanhava-a enquanto se despedia dos colegas e da patroa: "até já bom apetite, bom almoço" ouvia-a trocar com as pessoas com quem se cruzava, nos intervalos sussurrava-me mimos: "aguentas-te?" perguntava-me. Quando lhe disse a minha idade havia comentado "durmo todos os dias com um da tua idade", não pude deixar de relacionar as duas coisas e pensei para comigo "o marido não se aguenta....". Belo.
Prefiro quando elas têm um motivo, mas prefiro pressentir quando é apenas luxúria. Impotência do marido não é a recomendação ideal, pode sempre significar que a culpa é dela. Cobri os pensamentos com um jingle dos tempos da escola e cantei para mim mesmo "uma dá-se a todas, duas a algumas....". Depois o sentido do dever fez-me muitas vezes ou quase sempre durante uma época, estar na cama para ser perfeito para elas. Mais tarde descobri , quase por acidente que era quando me preocupava só comigo que conseguia a maior taxa de sucesso. Adoptei essa técnica facilitista com o tempo, o que me vale por vezes o epíteto de porco ou de tarado. A minha lindíssima amiga entretanto corria pelo passeio direita ao carro, casaco debaixo do braço, camisa e calças justíssimas e acetinadas, decote ideal, botas de salto alto, cabelo negro comprido e bem tratado. Nada falha nesta mulher, nem o sorriso, nem a forma como me manteve à distância durante duas horas.
Entrou no carro sentou-se e senti o macio tépido e pegajoso dos seus lábios pela primeira vez. Na altura não me apercebi ou simplesmente estava longe de pensar que iria ficar dependente daquela sensação. As nossas conversas tinham-me levado a trazer-lhe um presente especial que aguardava no assento ao meu lado. Ao entrar retirei o cuidadoso embrulho que depois lhe repousei nas pernas comprimidas dentro das finas e cintadas calças pretas e acetinadas. Orientou-me pelas ruas da cidade até ao local recomendado para este almoço meio social. Ofereceu-se para conduzir caso não me sentisse à vontade no trânsito o que aceitei com um sorriso enquanto lhe agradecia por ficar com as mãos livres, recuou de imediato num falso pudor porque a minha mão vinha desde o inicio acariciando a sua coxa de forma muito irrequieta.
Este primeiro contacto correu dentro das limitações de um maldito dia sem inspiração que deixou muita coisa por tratar. Na despedida um beijo de fugida uma mão que a prendeu até à promessa de uma repetição deste dia.

Volto ao telefonema inocente do principio desta história e ao quadro vivo.


Na sequência deste dia em que me arrependi de coisas por não as ter feito, decidi pressioná-la o mais possível para repetir a situação. Três dias depois estaríamos de novo desta vez a tomar o pequeno almoço juntos. A conversa ia bastante adiantada a havíamos deixado cair os disfarces, era como se, desistindo da inocência, decidíssemos ir direitos ao que ambos estávamos a pensar. A certa altura da conversa em que acertávamos horas, ela comentou com malícia que aquela hora da manhã "só se fosse para beber um leite morno", de brejeirice em brejeirice, anunciei que "aquela hora a vaca ainda não tinha pegado ao serviço" e, conversa puxa conversa, falávamos abertamente de fellacio e cunnilingus ou se preferirem de broche e minete, à mistura com todo o tipo de considerações em torno de trocas de fluidos.
Estava lançada a tensão sob o momento e iniciava-se com esta conversa um enlaçar de pernas e corpos que teria continuação no momento em que viéssemos a unir-nos, pele com pele. Acredito que uma parte do prazer começa na antecipação, na célebre viagem que nos conduz até ao clímax, por isso posso adiantar que nesta fase iniciei o meu orgasmo, comecei a vir-me. Tentei partilhar essa sensação com a minha nova parceira, quem sabe marcaria a diferença...

Naquela manhã convergimos para o local planeado, voltei a chegar adiantado e sentei-me com um café à frente. Escolhi uma mesa discreta num recanto do local. Havíamos escolhido o sitio em função da descrição porque sabíamos que se havia esgotado o tempo do defeso e iríamos começar ali mesmo a descobrir-nos. A esplanada exterior, ficava frente à montra ampla mas prolongava-se lateralmente até uns pilares que formavam as arcadas dos prédios vizinhos. Tinha estacionado o carro num local discreto, estratégico, prevendo qualquer situação de emergência que não viria a acontecer. A P chegou a horas, pontualíssima, como sempre havíamos feito o trajecto do encontro em permanente contacto telefónico, fomos falando e trocando promessas até ao momento em que estabelecemos contacto visual, mesmo depois continuámos de telefone ligado e assim nos mantivemos já depois de darmos as mãos (naquele momento comecei a suspeitar que havia ali algo de mais...) . Escolhemos o momento em que trocávamos uma das nossas promessas habituais ao telefone para desligar e passar das palavras aos actos. Ao vê-la aproximar-se de telefone na mão, havia-me levantado e removido as cadeiras que estavam na sua trajectória, não me desloquei ao seu encontro para me manter na relativa descrição daquele recanto. Aguardei-a de pé, alimentando a conversa enquanto completava com um olhar fixo cada palavra que dirigia. Por fim frente a frente, mão com mão, continuámos breves segundos a conversa como se estivéssemos distantes: "como estás vestida?" "Quem me dera estivesses aqui, está-me a apetecer beijar", "neste momento não me chegam as palavras", "agora fazia amor contigo".... Pousámos os telefones, trocámos algumas frases, promessas, em silêncio e iniciámos um beijo exploratório que durante algum tempo nos fez abstrair do local em que nos encontrávamos.
Este pequeno almoço, sem apetite e relegado para papel secundário, decorreu num ambiente do mais completo e encarniçado apelo sexual. Sentados lado a lado fomos sempre explorando todo o tipo de toques que a situação permitia. Um pouco mais e seríamos presos por atentado ao pudor. Beijos, toques e carícias, a torrada......fria.
A mão dela estava há muito no meio das minhas pernas enquanto a minha havia subido perscrutadora pelo joelho e sido detida na convergência das coxas, pela pressão destas, uma contra a outra. Aguardava um aliviar desse esforço que, sem dar demasiado nas vistas, me permitisse continuar a exploração iniciada. Não podíamos continuar ali por mais tempo, precisávamos de nos refugiar num local que nos permitisse continuar, o nosso tempo estava a acabar mas neste momento era bastante secundária essa preocupação e não podíamos deixar de concluir o que tínhamos começado. Um pequeno reconhecimento do terreno feito de soslaio à chegada revelava um cenário com que nos havíamos exercitado e excitado, uns dias antes numa cena imaginária. Fiz-lhe sinal para não falar, levantei-me, paguei a conta, regressei à mesa onde ela havia recolhido os nossos casacos que segurava dobrados sobre o braço e me aguardava de pé com um olhar ao mesmo tempo sereno e interrogante, perguntei sem aguardar resposta se confiava em mim, peguei-lhe pela mão e reboquei-a pelo corredor lateral da arcada.

A casa de banho publica ficava num corredor isolado e as entradas homem/mulher eram encostadas. Aquela hora da manhã além de excepcionalmente limpas não havia ninguém nas redondezas. Optei pela casa de banho dos homens abri a porta e espreitei, estava vazia, havia olhado para trás e não estava ninguém no corredor, sem pensar, sem hesitar, entrei, sempre levando a minha amiga bem firme pela mão não fosse ela retrair-se. Escolhi o mais seguro reservado, espreitei, entrei, puxei-a para dentro e fechei a porta atrás de mim. Olhei a
P directamente nos olhos e notei sem margem para dúvidas que esta opção a tinha deixado excitada.

Repeti o gesto de silêncio. Sem sons, sem palavras, sentei-a na tampa do único pouso disponível, inclinei-me e dei continuação ao ultimo beijo trocado na esplanada, sem pressa, fui-lhe retirando cuidadosamente a roupa de baixo, baixei-me, agarrei-a por detrás dos joelhos erguendo as pernas no ar e enfiei a língua repentinamente, o mais fundo possível, no seu centro de prazer. Fui retirando a língua lentamente com ligeiras paragens e num vaivém trémulo, quando atingi o seu exterior massajei-a à vontade e abundantemente pelos arredores e voltei a entrar de língua repetindo todo o percurso. A sua reacção dizia-me para continuar, ela segurava a minha cabeça com ambas as mãos e procurava conduzir-me para fora nos momentos de maior descontrole, o que não permiti. Continuei assim bastante tempo até o desconforto da posição falar mais alto. Ergui-me e comecei a aliviar-me do aperto das roupas enquanto ela se endireitou no assento e sem cerimónias se atirou direitinha ao fecho das minhas calças. Sem tabus ou falsos pudores iniciou um desfile de todos os malabarismos que tinha de reserva ao longo do meu sexo que há muito soltava húmidas e abundantes expressões de alegria. Na minha posição de pé e ela sentada fechei-lhe suavemente o nariz com o polegar e indicador da mão esquerda para a obrigar a abrir a bomba de sucção labial para respirar, ela abrandou e olhou-me sem parar o movimento, com a mão direita comandei-lhe o maxilar, afundava agora o meu sexo pela sua garganta abaixo sem tocar nos lábios que se fechavam só no movimento de saída, puxei-lhe suavemente e língua para fora para acompanhar todo o trajecto e procurei manter aquela movimentação de forma regulada mantendo-me durante bastante tempo num estado permanente de pré-ejaculação em que abrandava o movimento para evitar vir-me de imediato, e de seguida acelerava até me estar quase a vir. Esta movimentação pareceu-me durar muito tempo após o que coloquei o meu casaco a servir de coxim e colocando-a na posição inicial comecei a massajá-la de novo com a língua. O seu sabor é absolutamente fora de tudo o que provei até hoje, mais tarde haveria de a questionar se usava algum perfume ou técnica de lavagem que pudesse ser o responsável pelo indefinível e excepcional sabor almiscarado, adocicado, acre e doce, amendoado, da sua rata, ao que me respondeu que "é tudo natural, como a tua sede...". Alternei então a penetração com a língua. Durante alguns minutos fui alternando entre beijar e mordiscar aquela cona cenicamente perfeita e meter-me dentro dela com um golpe seco, único, de rins prolongando o movimento de saída até quase à dor. Quando ambos já não suportávamos mais aquele jogo e estávamos mesmo no limite da resistência, num consenso sem palavras P virou-se de joelhos sob o casaco colocado em cima da tampa, e roçando o seu rosto pelo meu, trocamos um beijo e um olhar sem equívocos, firmemente agarrada pela anca penetrei-a por trás até ao fundo começando com movimentos lentos regulados pela leitura que conseguia fazer das reacções dela, sempre naquilo que nos parecia ser o maior silêncio, acelerando quando chegou a hora para desabarmos em simultâneo numa liberdade de líquidos abundantemente soltos bem no fundo daquela cona quente. Passaram alguns minutos enquanto acertámos o nosso relógio de êxtase com a hora legal, voltávamos à terra ao mesmo tempo que lentamente íamos desfazendo o abraço em que, numa posição incómoda, nos havíamos abandonado.
Servimos de espelho um ao outro, limpámo-nos, tentámos ver-nos livres do inevitável/indisfarçável ar de quem acabou de foder.
Tentei perceber a movimentação do outro lado da porta, olhei para trás
P fazia uma avaliação do estado do vestido e tinha dobrados no braço os casacos, conforme tinha quando entrou. Decidi sair, peguei-lhe na mão, abri a porta e arrastei-a, sem olhar para os lados, quase a voar pelo meio de dois ou três rostos expectantes que, adivinhos com boa capacidade auditiva, nos aguardavam curiosos e entesados.
Só abrandámos já estávamos bem longe e, sempre puxando-a pela mão, dirige-me à mesma esplanada onde havíamos estado. P deu alguns saltitos mais rápidos num esforço para tentar acompanhar o meu passo apressado e conseguiu colocar-se ao meu lado, abrandei então como reconhecimento pelo seu esforço em tentar acompanhar-me sem reclamar. Olhámo-nos pela primeira vez à luz aberta depois de sairmos daquele local, rimo-nos francamente e beijámo-nos. cúmplices numa aventura que havia sido novidade para os dois. "Que tal estou?" perguntou. "Disfarças, e eu?". Repetimos o pequeno almoço, desta vez mais calmo e menos tímido , retemperado pelo apetite criado no momento que havíamos acabado de experimentar. Despedimo-nos com um silêncio que valia por todas as palavras tornadas desnecessárias pelos olhares e por um cingir das mãos a acabar em beijos. Combinámos decidir novo encontro quando voltássemos a falar, havia uma promessa tão grande neste momento que havíamos acabado de partilhar, que ambos queríamos retomá-lo quanto antes.

De olhos fechados sorria esquecido enquanto recordava estes momentos, fui acordado por uma observação ao ouvido
andas muito prosaico mesmo. Sorri, mal sabes tu por onde anda a minha prosa.....

6 comentários:

Ly disse...

Um sussurro...

Luna disse...

Apesar de prosaico, ela sabe desse dessa aprendizagem, são trocas de saberes e sabores, experiências, que fizeram durante tanto tempo...

As cenas mais escaldantes, começam com os pormenores mais inocentes. Mas intensos, inesquecíveis...

Excelente descrição de situações excitantes.

Quem te inspira é uma deusa...:-D....ou várias (risos)

Pearl disse...

Diria que uma prosa apimentada e deliciosamente mascarada por verdades (in)contidas!
Seja como fôr foi bom aquele encontro... tão prosaico como libidinoso!

Parabéns pela escita!

beijo

Anónimo disse...

Sabes o que me ficou realmente retido? O "ar de quem acabou de foder"... adoro sair assim á rua...

Excelente. Como se tem tornado habitual.. Um beijo

Anónimo disse...

É tão bom ler algo tão...
... revelante!
E delicioso.

;))
Um beijo. Ou três.

Carla disse...

Uma longa e perfeita descrição que nos conduz a um universo de sentires vestidos com o manto do prazer